Introdução
Com este trabalho pretende-se estudar a Mulher de
finais do século XIX e princípios do século XX, após a Primeira Revolução
Industrial do ponto de vista de Hobsbawm.
Tentaremos explicar as
evoluções e conquistas das mulheres, a nível profissional, político e pessoal.
A forma como era vista e tratada no trabalho, a luta pelo direito ao voto e
pela sua emancipação, a conquista de liberdade sexual, a mulher no desporto,
nas mudanças de vestuário, usando roupas mais ousadas…
Também falaremos na vontade que a mulher tinha em se
instruir indo para o ensino secundário e para a universidade, nas mulheres
notáveis que surgiram na época, no problema que se colocava entre a mulher/mãe
e ao mesmo tempo mulher/política ou mulher/trabalhadora
As
Novas Mulheres (Capítulo 8 de A Era do
Império)
Eric
Hobsbawm
Após
a Revolução Industrial, com a ida das mulheres para as fábricas e para o mundo
do trabalho em geral, saindo de casa, a mentalidade das mulheres foi mudando
aos poucos.
Comecemos pelas mudanças
demográficas. Devido à sua condição de trabalhadoras, tinham menos filhos.
Havia um controlo voluntário de nascimentos (como a abstinência sexual, o coito
interrompido e provavelmente o aborto).
Na França pré-revolucionária, por
exemplo, para garantir a transmissão de terras, reduzindo as partilhas, os
casamentos eram muito tardios e era prática comum enviar os filhos e filhas
para conventos, passando lá o resto da vida, servindo Deus.
Tanto as mulheres como os homens,
principalmente na cidade, tinham o desejo de aumentar a sua qualidade de vida e
o facto de ter muitos filhos não era compatível, devido às despesas que os
filhos traziam. A ida para a escola, os anos de aprendizagem, fazia-os economicamente
dependentes e já nesse tempo existiam proibições de trabalho infantil, que só
na agricultura eram ignoradas.
Os pais também tinham uma visão
diferente dos filhos. Anteriormente era impensável um filho saber mais que o
pai ou vir a ser mais importante que ele, nesta época, já apostavam nas
oportunidades de futuro dos filhos, sendo uma família pequena, seria mais fácil
monetariamente investir nos filhos.
Com excepção do trabalho doméstico,
os empregos das mulheres não eram considerados como tal, mas sim como ocupações
temporárias.
No mundo rural não era assim. Os homens
tinham consciência que nada faziam sem a ajuda da mulher. Elas tinham que
tratar das crianças e da casa. Era impossível para um camponês trabalhar sem a
participação da companheira, ela nunca poderia ter um trabalho que não fosse
junto do marido.
O
número de mulheres que trabalhavam era cada vez maior. Inicialmente operavam
nas chamadas indústrias caseiras, para consumo doméstico e para venda para fora
como o fabrico de laços, esteiras, tecelagem em tear manual, fabrico de meias
com agulhas. Estas indústrias tinham a vantagem de possibilitar à mulher casada
trabalhar, ganhando algum dinheiro, apesar de ser mal paga e ao mesmo tempo
cuidar da casa e dos filhos.
Contudo nem todas as mulheres
trabalhavam em casa. Aí a coisa complicava-se. O papel principal da mulher era
ser dona de casa. Quem trazia regularmente dinheiro para casa era o homem, as
mulheres limitavam-se a contribuir com os seus parcos ganhos, que eram
considerados complementares ao salário do marido.
A estratégia era simples, evitar a
concorrência feminina. Os homens ganhavam mais por serem homens e por terem o
“dever” de sustentar a casa. As mulheres tinham que ganhar menos para não
competirem com eles e assim continuarem dependentes financeiramente e terem
ocupações mal remuneradas.
As mulheres da época estavam
reduzidas a duas alternativas, a prostituição de luxo, à qual poucas tinham
acesso e poucas estavam interessadas ou então um bom casamento, o que também
não era propriamente fácil pois implicava sacrifícios. Muitas mulheres
trabalhavam em solteiras e após casarem, deixavam o trabalho para ficarem em
casa pois assim provavam à sociedade que não precisavam de trabalhar para
ajudar a sustentar a família, que o seu marido tinha dinheiro suficiente para a
família. Eram obrigadas a voltar à dependência masculina.
Era considerado normal
as mulheres trabalharem quando solteiras, viúvas ou abandonadas pelos maridos,
mas quando casadas, deixava de o ser.
As mulheres estavam excluídas da
economia. Qualquer trabalho que desempenhassem, não era considerado trabalho
mas sim ocupação pois quem trabalhava eram os homens. A economia era
masculinizada. Não tinham direito ao voto, a política era assunto de homens.
Não entravam em partidos, não tinham opinião, só exerciam alguma influência
através dos seus homens. Eram consideradas inferiores. Seres humanos de segunda
classe, sem direitos cívicos, nem o nome de cidadãs lhes era atribuído.
Mas a sua posição foi-se modificando
ao longo dos anos por razões económicas. O aumento de ocupações tipicamente
femininas (lojas e escritórios) ou o crescimento da educação elementar, tirando
cursos como o de dactilografia, por exemplo, beneficiou as filhas de operários,
camponeses, mas principalmente as filhas das classes médias-baixas.
Nas últimas décadas do século XIX,
começaram a notar-se mudanças na posição social e expectativas das mulheres. A
sua emancipação já vai sendo visível na classe média. Mulheres como Rosa
Luxemburgo, Madame Curie, Beatrice Webb, ocuparam lugares anteriormente de
homens e foram as pioneiras.
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As suas limitações não eram só
sociais e políticas mas também culturais. Apesar de serem consideradas
inferiores, eram elas a educar os filhos, que ensinavam a língua, transmitiam
valores e cultura, elas formavam os futuros homens… De uma certa maneira, os
homens respeitavam-nas. Em teoria e em público, o homem dominava, mas as
mulheres aprenderam a contornar as regras.
Também a Igreja Católica defendia a
mulher e os seus direitos. Mas defendia que a defesa do sexo feminino residia
na religião, nos conventos, tornando-se freiras e a percentagem das que optavam
por esta via eram muito superior às mulheres que defendiam a libertação
feminina.
Quando as mulheres começaram a ser
recrutadas em quantidades visíveis nos partidos trabalhistas e socialistas,
grande parte eram esposas, filhas ou mães (como na novela de Gorki) de
militantes socialistas. "Nascia naquela pequena sala um sentimento de
parentesco espiritual que unia os trabalhadores de todo o mundo. Este
sentimento, que a todos fazia vibrar num mesmo coração, era partilhado pela
mãe, e embora não compreendesse muito claramente bebia a alegria e a juventude
deles e deixava-se embriagar com a sua força e a sua esperança" (A Mãe, de
Máximo Gorki, p. 39).
As campanhas públicas de esquerda
começaram a surgir. As reformadoras, as filantropistas. A política socialista e
revolucionária fez surgir nomes como Rosa de Luxemburgo, Vera Zasulich,
Alexandra Kuliscioff, Angelica Balabanoff, Emma Goldman, da Rússia Czarista e
outras tantas de outros países.
Havia alguma facilidade em as
mulheres se distinguirem na vida pública. Está simbolizada no Nobel da Paz atribuído
a Bertha Von Suttner, em 1905. Era difícil enfrentar o muro resistente dos
homens, contudo, algumas contornavam-no. Marie Curie ganhou dois Prémios Nobel
de Ciências em 1903 e 1911, por exemplo.
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As mulheres cada vez tinham mais
aspirações, principalmente na classe média. O principal sintoma era a aposta na
educação. Havia cada vez mais raparigas no ensino secundário. Também na
universidade elas estavam presentes. Em 1908 a primeira mulher foi nomeada
professora universitária na Academia Comercial em Mannheim, na Alemanha.
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Surgiu também uma certa liberdade na
indumentária. Acabam com os espartilhos feitos com barbas de baleia, que são
substituídos por corpetes e soutiens. Depois surgiram os cosméticos, que
anteriormente só eram usados pelas prostitutas, começaram a mostrar as pernas,
coisa absolutamente proibida anteriormente.
Iniciaram práticas de desporto como
montanhismo, ciclismo, dedicaram-se ao ténis, entrando em torneios em Wimbledon
na versão singles.
As
mulheres que exerciam actividades femininas, normalmente casadas, estavam
ligadas ao teatro e à literatura.
Em 1909, Selma Lagerlöf, da Suécia,
ganhou o Prémio Nobel da Literatura.
Liberdade de movimentos não é
liberdade sexual. O sexo sem casamento não era aceite, se bem que houvesse
raparigas que o praticassem, o mesmo acontecia com o adultério, era cometido,
mas discretamente.
Esta é, no entanto, uma época em que
a mulher se preocupa com o erotismo do seu corpo. Sabe que desperta interesse
nos homens.
A libertação sexual era um assunto
delicado. As feministas atraiam todo o tipo de movimentos contra os
convencionalismos como os utópicos, boémios, propagandistas, contraculturais e
os que defendiam o direito de dormir com qualquer pessoa. Até homossexuais como
Edward Carpenter e Oscar Wilde, mulheres livres como Annie Besant. As uniões
livres, sem contractos de casamento, além de aceites, eram quase obrigatórias.
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Muitos defendiam que a emancipação
feminina e a maternidade não combinavam.
As americanas resolveram parte desse
problema. Apostaram na tecnologia em casa. Fogões a gás, eléctricos,
aspiradores (1903), ferros de engomar eléctricos (1909), máquinas de lavar
roupa em lavandarias públicas.
Construíram-se
escolas infantis, creches e forneceram-se alimentos cozinhados nas escolas, o
que libertava a mulher para trabalhar.
A maioria das mulheres emancipadas
da classe média que optava por uma carreira, não casavam nem tinham filhos,
ficando celibatárias. As mulheres e a sociedade em geral consideravam o
casamento uma carreira que obrigava ao abandono de outra qualquer profissão,
devido a ser muito exigente, era um trabalho a tempo inteiro.
Por volta de 1914 começaram a conquistar
o direito ao voto na grande maioria do países. Aos poucos elas foram provando
que eram capazes.
Como
Bernard Shaw declarou: "A emancipação da mulher é principalmente obra dela"
Conclusões
Hobsbawm era um homem com ideologia de esquerda, o
que faz com que a sua visão não seja propriamente neutra. Vê-se claramente no
seu texto que é apologista da emancipação feminina, do direito ao voto e da
liberdade sexual da mulher.
Parece ser um homem que escreve abertamente sobre as
coisas, imprimindo discretamente o seu ponto de vista no discurso.
Apesar de não fazer parte do trabalho nem da época
em estudo, devido ao tema, há considerações finais julgadas de relevância para
o autor desta análise:
Infelizmente há problemas que se mantém ao longo dos
tempos. Apesar da emancipação feminina ser ponto assente na grande maioria dos
países e o direito ao voto também, ainda há casos de discriminação. Fábricas
(como em Portugal por exemplo), em que os homens ganham mais, empresas que só
empregam homens, instituições que não permitem que as mulheres cheguem a cargos
de chefia, mulheres que são despedidas por estarem grávidas...
É claro que há proibições e regras para grande parte
destes casos mas não quer dizer que sejam cumpridos por todos. As mentalidades
mudaram, sem dúvida, tornaram-se mais abertas na aceitação dos outros,
esperemos que continuem este processo pois não parece estar concluído para
muitos…
Foi um prazer fazer este trabalho.
Bibliografia
BESSA, Karla Adriana Martins O papel
das mulheres na sociedade ao longo da História.
[Consultado em 07-12-2009]. Disponível na Internet:
http://pt.shvoong.com/social-sciences/sociology/1653449-papel-da-mulher-na-sociedade/
http://pt.shvoong.com/social-sciences/sociology/1653449-papel-da-mulher-na-sociedade/
GORKI, Máximo - A
mãe. Amadora: Ediclube, 1994. ISBN 84-408-0038-X.
HOBSBAWM – A
Era do Império: 1875-1914. Lisboa: Editorial Presença, 1990.
Wikipedia. [Consultado em 01-12-2009].
Disponível na Internet: http://pt.wikipedia.org/
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