domingo, 8 de março de 2015

As Novas Mulheres (a Era do Império) Eric Hobsbawm




Introdução

Com este trabalho pretende-se estudar a Mulher de finais do século XIX e princípios do século XX, após a Primeira Revolução Industrial do ponto de vista de Hobsbawm.
            Tentaremos explicar as evoluções e conquistas das mulheres, a nível profissional, político e pessoal. A forma como era vista e tratada no trabalho, a luta pelo direito ao voto e pela sua emancipação, a conquista de liberdade sexual, a mulher no desporto, nas mudanças de vestuário, usando roupas mais ousadas…
Também falaremos na vontade que a mulher tinha em se instruir indo para o ensino secundário e para a universidade, nas mulheres notáveis que surgiram na época, no problema que se colocava entre a mulher/mãe e ao mesmo tempo mulher/política ou mulher/trabalhadora

As Novas Mulheres (Capítulo 8 de A Era do Império)
Eric Hobsbawm



Após a Revolução Industrial, com a ida das mulheres para as fábricas e para o mundo do trabalho em geral, saindo de casa, a mentalidade das mulheres foi mudando aos poucos.
            Comecemos pelas mudanças demográficas. Devido à sua condição de trabalhadoras, tinham menos filhos. Havia um controlo voluntário de nascimentos (como a abstinência sexual, o coito interrompido e provavelmente o aborto).


            Na França pré-revolucionária, por exemplo, para garantir a transmissão de terras, reduzindo as partilhas, os casamentos eram muito tardios e era prática comum enviar os filhos e filhas para conventos, passando lá o resto da vida, servindo Deus.
            Tanto as mulheres como os homens, principalmente na cidade, tinham o desejo de aumentar a sua qualidade de vida e o facto de ter muitos filhos não era compatível, devido às despesas que os filhos traziam. A ida para a escola, os anos de aprendizagem, fazia-os economicamente dependentes e já nesse tempo existiam proibições de trabalho infantil, que só na agricultura eram ignoradas.

            Os pais também tinham uma visão diferente dos filhos. Anteriormente era impensável um filho saber mais que o pai ou vir a ser mais importante que ele, nesta época, já apostavam nas oportunidades de futuro dos filhos, sendo uma família pequena, seria mais fácil monetariamente investir nos filhos.
            Com excepção do trabalho doméstico, os empregos das mulheres não eram considerados como tal, mas sim como ocupações temporárias.
            No mundo rural não era assim. Os homens tinham consciência que nada faziam sem a ajuda da mulher. Elas tinham que tratar das crianças e da casa. Era impossível para um camponês trabalhar sem a participação da companheira, ela nunca poderia ter um trabalho que não fosse junto do marido.
            O número de mulheres que trabalhavam era cada vez maior. Inicialmente operavam nas chamadas indústrias caseiras, para consumo doméstico e para venda para fora como o fabrico de laços, esteiras, tecelagem em tear manual, fabrico de meias com agulhas. Estas indústrias tinham a vantagem de possibilitar à mulher casada trabalhar, ganhando algum dinheiro, apesar de ser mal paga e ao mesmo tempo cuidar da casa e dos filhos.
            Contudo nem todas as mulheres trabalhavam em casa. Aí a coisa complicava-se. O papel principal da mulher era ser dona de casa. Quem trazia regularmente dinheiro para casa era o homem, as mulheres limitavam-se a contribuir com os seus parcos ganhos, que eram considerados complementares ao salário do marido.
            A estratégia era simples, evitar a concorrência feminina. Os homens ganhavam mais por serem homens e por terem o “dever” de sustentar a casa. As mulheres tinham que ganhar menos para não competirem com eles e assim continuarem dependentes financeiramente e terem ocupações mal remuneradas.
            As mulheres da época estavam reduzidas a duas alternativas, a prostituição de luxo, à qual poucas tinham acesso e poucas estavam interessadas ou então um bom casamento, o que também não era propriamente fácil pois implicava sacrifícios. Muitas mulheres trabalhavam em solteiras e após casarem, deixavam o trabalho para ficarem em casa pois assim provavam à sociedade que não precisavam de trabalhar para ajudar a sustentar a família, que o seu marido tinha dinheiro suficiente para a família. Eram obrigadas a voltar à dependência masculina.
  Era considerado normal as mulheres trabalharem quando solteiras, viúvas ou abandonadas pelos maridos, mas quando casadas, deixava de o ser.
            As mulheres estavam excluídas da economia. Qualquer trabalho que desempenhassem, não era considerado trabalho mas sim ocupação pois quem trabalhava eram os homens. A economia era masculinizada. Não tinham direito ao voto, a política era assunto de homens. Não entravam em partidos, não tinham opinião, só exerciam alguma influência através dos seus homens. Eram consideradas inferiores. Seres humanos de segunda classe, sem direitos cívicos, nem o nome de cidadãs lhes era atribuído.
            Mas a sua posição foi-se modificando ao longo dos anos por razões económicas. O aumento de ocupações tipicamente femininas (lojas e escritórios) ou o crescimento da educação elementar, tirando cursos como o de dactilografia, por exemplo, beneficiou as filhas de operários, camponeses, mas principalmente as filhas das classes médias-baixas.
            Nas últimas décadas do século XIX, começaram a notar-se mudanças na posição social e expectativas das mulheres. A sua emancipação já vai sendo visível na classe média. Mulheres como Rosa Luxemburgo, Madame Curie, Beatrice Webb, ocuparam lugares anteriormente de homens e foram as pioneiras.



            Começaram a surgir, em certos locais, mulheres sufragistas (as suffragettes), pertencentes à União Social e Política das Mulheres, em luta pelo direito ao voto. Mas não tinham grande significado. Só depois da Primeira Guerra Mundial começaram a ter algum sucesso. Contudo a sua campanha contra o tráfico de escravatura branca, que conduziu à Lei Mann em 1910 nos Estados Unidos, foi relevante mas sem sucesso e a campanha anti-alcoolismo foi um tal sucesso que conduziu à décima oitava emenda da Constituição dos Estados Unidos que proibia o Álcool. A luta pelo direito ao voto e a luta pela emancipação feminina eram fortemente apoiadas pelo recentes Partidos trabalhistas e socialistas, que se ofereciam para ajudar as mulheres a fazerem parte da vida pública, mas apesar de atraídos pela causa, também se queriam imiscuir nas limitações que as mulheres tinham nos empregos pois achavam esse problema mais importante que a libertação política.
            As suas limitações não eram só sociais e políticas mas também culturais. Apesar de serem consideradas inferiores, eram elas a educar os filhos, que ensinavam a língua, transmitiam valores e cultura, elas formavam os futuros homens… De uma certa maneira, os homens respeitavam-nas. Em teoria e em público, o homem dominava, mas as mulheres aprenderam a contornar as regras.
            Também a Igreja Católica defendia a mulher e os seus direitos. Mas defendia que a defesa do sexo feminino residia na religião, nos conventos, tornando-se freiras e a percentagem das que optavam por esta via eram muito superior às mulheres que defendiam a libertação feminina.
            Quando as mulheres começaram a ser recrutadas em quantidades visíveis nos partidos trabalhistas e socialistas, grande parte eram esposas, filhas ou mães (como na novela de Gorki) de militantes socialistas. "Nascia naquela pequena sala um sentimento de parentesco espiritual que unia os trabalhadores de todo o mundo. Este sentimento, que a todos fazia vibrar num mesmo coração, era partilhado pela mãe, e embora não compreendesse muito claramente bebia a alegria e a juventude deles e deixava-se embriagar com a sua força e a sua esperança" (A Mãe, de Máximo Gorki, p. 39).
            As campanhas públicas de esquerda começaram a surgir. As reformadoras, as filantropistas. A política socialista e revolucionária fez surgir nomes como Rosa de Luxemburgo, Vera Zasulich, Alexandra Kuliscioff, Angelica Balabanoff, Emma Goldman, da Rússia Czarista e outras tantas de outros países.
            Havia alguma facilidade em as mulheres se distinguirem na vida pública. Está simbolizada no Nobel da Paz atribuído a Bertha Von Suttner, em 1905. Era difícil enfrentar o muro resistente dos homens, contudo, algumas contornavam-no. Marie Curie ganhou dois Prémios Nobel de Ciências em 1903 e 1911, por exemplo.

            A emancipação estava a ser aceite muito lentamente. Mesmo entre a classe média, as famílias aceitavam que as filhas trabalhassem pois não podiam sustentá-las caso não casassem. Mesmo alguns homens viam a emancipação feminina com bons olhos.
            As mulheres cada vez tinham mais aspirações, principalmente na classe média. O principal sintoma era a aposta na educação. Havia cada vez mais raparigas no ensino secundário. Também na universidade elas estavam presentes. Em 1908 a primeira mulher foi nomeada professora universitária na Academia Comercial em Mannheim, na Alemanha.

            Deram-lhes mais direitos individuais, perante a sociedade, nas suas relações com os homens. Começaram a poder dançar em locais públicos como clubes nocturnos, em hotéis, durante a hora do chá, entre outros.
            Surgiu também uma certa liberdade na indumentária. Acabam com os espartilhos feitos com barbas de baleia, que são substituídos por corpetes e soutiens. Depois surgiram os cosméticos, que anteriormente só eram usados pelas prostitutas, começaram a mostrar as pernas, coisa absolutamente proibida anteriormente.
            Iniciaram práticas de desporto como montanhismo, ciclismo, dedicaram-se ao ténis, entrando em torneios em Wimbledon na versão singles.
As mulheres que exerciam actividades femininas, normalmente casadas, estavam ligadas ao teatro e à literatura.
            Em 1909, Selma Lagerlöf, da Suécia, ganhou o Prémio Nobel da Literatura.
            Liberdade de movimentos não é liberdade sexual. O sexo sem casamento não era aceite, se bem que houvesse raparigas que o praticassem, o mesmo acontecia com o adultério, era cometido, mas discretamente.
            Esta é, no entanto, uma época em que a mulher se preocupa com o erotismo do seu corpo. Sabe que desperta interesse nos homens.
            A libertação sexual era um assunto delicado. As feministas atraiam todo o tipo de movimentos contra os convencionalismos como os utópicos, boémios, propagandistas, contraculturais e os que defendiam o direito de dormir com qualquer pessoa. Até homossexuais como Edward Carpenter e Oscar Wilde, mulheres livres como Annie Besant. As uniões livres, sem contractos de casamento, além de aceites, eram quase obrigatórias.




            Contudo, a libertação sexual levantava uma questão importante, a família. A mulher era imprescindível como mãe. Principalmente nas classes mais baixas. Nas classes mais altas as questões resolviam-se com a criadagem e enviando os filhos para colégios internos, mas as classes baixas não tinham esses recursos.
            Muitos defendiam que a emancipação feminina e a maternidade não combinavam.
            As americanas resolveram parte desse problema. Apostaram na tecnologia em casa. Fogões a gás, eléctricos, aspiradores (1903), ferros de engomar eléctricos (1909), máquinas de lavar roupa em lavandarias públicas.
Construíram-se escolas infantis, creches e forneceram-se alimentos cozinhados nas escolas, o que libertava a mulher para trabalhar.
            A maioria das mulheres emancipadas da classe média que optava por uma carreira, não casavam nem tinham filhos, ficando celibatárias. As mulheres e a sociedade em geral consideravam o casamento uma carreira que obrigava ao abandono de outra qualquer profissão, devido a ser muito exigente, era um trabalho a tempo inteiro.
Por volta de 1914 começaram a conquistar o direito ao voto na grande maioria do países. Aos poucos elas foram provando que eram capazes.
            Como Bernard Shaw declarou: "A emancipação da mulher é principalmente obra dela"
           
           

Conclusões

Hobsbawm era um homem com ideologia de esquerda, o que faz com que a sua visão não seja propriamente neutra. Vê-se claramente no seu texto que é apologista da emancipação feminina, do direito ao voto e da liberdade sexual da mulher.
Parece ser um homem que escreve abertamente sobre as coisas, imprimindo discretamente o seu ponto de vista no discurso.
Apesar de não fazer parte do trabalho nem da época em estudo, devido ao tema, há considerações finais julgadas de relevância para o autor desta análise:
Infelizmente há problemas que se mantém ao longo dos tempos. Apesar da emancipação feminina ser ponto assente na grande maioria dos países e o direito ao voto também, ainda há casos de discriminação. Fábricas (como em Portugal por exemplo), em que os homens ganham mais, empresas que só empregam homens, instituições que não permitem que as mulheres cheguem a cargos de chefia, mulheres que são despedidas por estarem grávidas...
É claro que há proibições e regras para grande parte destes casos mas não quer dizer que sejam cumpridos por todos. As mentalidades mudaram, sem dúvida, tornaram-se mais abertas na aceitação dos outros, esperemos que continuem este processo pois não parece estar concluído para muitos…
Foi um prazer fazer este trabalho.

                       





Bibliografia
BESSA, Karla Adriana Martins - O papel das mulheres na sociedade ao longo da História. [Consultado em 07-12-2009]. Disponível na Internet:
 
http://pt.shvoong.com/social-sciences/sociology/1653449-papel-da-mulher-na-sociedade/
GORKI, Máximo - A mãe. Amadora: Ediclube, 1994. ISBN 84-408-0038-X.
HOBSBAWM – A Era do Império: 1875-1914. Lisboa: Editorial Presença, 1990.
Wikipedia. [Consultado em 01-12-2009]. Disponível na Internet: http://pt.wikipedia.org/


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